\ A VOZ PORTALEGRENSE: A Direita e as Direitas

quarta-feira, agosto 16, 2006

A Direita e as Direitas

( Capa: Marcello de Moraes)

No segundo número da revista ‘Futuro Presente’, ‘Setembro - Outubro - 1980’, vem um importante texto de João Bigotte Chorão sobre Giuseppe Prezzolini, intitulado ‘Um Italiano Útil’. Depois, está uma entrevista feita por Cláudio Quarantotto a Prezzolini, cuja primeira pergunta é:
Quarantotto - Tendo contestado todas as definições de Direita dadas por outros, só te resta dizer a tua. O que é a Direita?
Prezzolini - É o conjunto das Direitas, das que recordámos e das que esquecemos.

Giuseppe Prezzolini (1882-1982)

*

Não há ‘uma’ Direita, mas sim várias Direitas.
Esse facto, ao contrário de ser reducionista, faz da Direita uma comunidade de pensamento plural.
As Direitas, por mais antagónicas que se julgem ser, conhecem o que as une, embora, à primeira vista, pareçam sempre desunidas.
A blogosfera é, será, o exemplo mais recente da multiplicidade das Direitas, que se guerreiam verbalmente, mas que têm, quando é preciso decidir-escolher, o sentido da responsabilidade, que se traduz na perfeita identificação do amigo-inimigo, segundo Carl Schmitt.
O texto que Manuel Azinhal publicou no seu blog ‘O sexo dos anjos’ em 25 de Julho passado, e que, com a devida vénia, reproduzimos no post anterior, vem no seguimento do que acabámos de afirmar.
O Autor começa pela afirmação negativa, o que não é, e termina pela afirmação positiva, o que é.
A sua escrita revela um grito de angústia perante a realidade daquela Direita que se ‘vende por um prato de lentilhas’, e que será maioritária.
A Direita dos Valores, que se opõe à Direita dos Interesses é, e será sempre, minoritária.
Manuel Azinhal pertence à primeira. Mas não está, estará, tão sozinho como pensa.
Não é fácil assistir ao ‘espectáculo’, daí a ‘escrita de raiva’ com que começa, bem diferente daquela com que termina, em que faz a apologia de uma Direita Pura.
Lemo-lo, relemo-lo e tornámos a lê-lo. Ao transcrevê-lo propositadamente agora, num nosso período intermédio de férias, queremos com isso mostrar a simultaneidade da crueza e beleza de um texto, importante e sempre actual, com o qual nos identificamos na sua plenitude. [mj]