\ A VOZ PORTALEGRENSE: Crónica de Nenhures

quarta-feira, novembro 22, 2006

Crónica de Nenhures

O Tubarão
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Um tubarão “gigante” foi apanhado nas redes de um pescador, tenho sido trazido para terra.
Pobre animal. Primeiro, é um tubarão, espécie marinha que sempre impõe respeito quer pela dimensão quer pela agressividade, o que não este o caso. Segundo, é uma fêmea, sempre, aparentemente…, mais dócil que qualquer macho, logo mais inofensivo. Terceiro, a sua alimentação não destrói os recursos piscícolas, não é um predador, assim, mais indiferente se lhe é. Quarto, é conhecido por tubarão-frade, o que nos tempos actuais, de forte agnosticismo e anti-clericalismo, não é lá muito abonatório. Finalmente, não apresenta a menor semelhança com aquela espécime de tubarão que vive em terra, o Homem…
Ao contrário deste tubarão-frade, o tubarão-homem destrói os ecossistemas sem qualquer problema, assassina o semelhante com um sangue frio inigualável, enfim, caminha sobre a Terra deixando um rasto de destruição sem o menor remorso. É um predador sem limites!
Mas há uma característica comum entre o tubarão-tubarão e o tubarão-homem, ambos “navegam em águas profundas”…
Considerando as dimensões geográficas do Planeta, dir-se-á que há mais tubarões-homens, que tubarões-tubarões em todos os Oceanos juntos… E aqueles são mais predadores do que os que vivem no Mar.
Mas é fácil distinguir um homem-homem de um tubarão-homem. Às vezes é que se encontra um dos segundos, do qual nunca se suspeitaria, ou pelo qual se poria as “mãos no lume”…
Os “negócios” dos tubarões-homens são invariavelmente semelhantes em toda a parte do Mundo, droga, prostituição, assassinatos selectivos, tráfico de armas, mercenários e protecção de ditadores, enfim, ao longo dos tempos não conseguem inovar. Mas que fazem muito mal à sociedade, isso é indesmentível.
Muitos, lembrando a Máfia siciliana, são “tementes a Deus” e ferozmente “nacionalistas” (há que lembrar as fortes ligações entre a Máfia e a Democracia Cristã italiana…), mas têm as mais tenebrosas ligações com toda a espécie de assassinos, ditadores e gente do crime organizado, ao qual, no fundo, querendo ou não, pertencem.
MM
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O tubarão-frade que ontem apareceu em Sesimbra não é caso raro, consideram especialistas em biologia marinha, explicando que estes peixes frequentam o Oceano Atlântico em busca de algas e crustáceos.
O peixe, com cerca de sete metros de comprimento e 2,5 toneladas, foi acidentalmente capturado por quatro pescadores da embarcação Sempre Coragem, na madrugada de ontem, enquanto pescavam peixe-espada preto a cerca de mil metros de profundidade. O tubarão foi depositado num aterro.
"Os tubarões-frade vivem no Oceano Atlântico e não é nada invulgar aparecerem na costa portuguesa, a cerca de 15 milhas (20 quilómetros)", refere o biólogo marinho Élio Vicente, adiantando, porém, "que não é vulgar encontrá-los a dois ou três quilómetros da costa".
Esta espécie gosta de águas temperadas - não se encontra em águas quentes ou gélidas - e alimenta-se de pequenos animais marinhos e algas, "não oferecendo perigo nem para uma sardinha", garantiu o especialista, lembrando que "não têm dentes e só filtram microrganismos".
Por seu turno, o biólogo marinho João Pedro Correia explicou que a aproximação de espécies como o tubarão-frade pode dever-se a um fenómeno que provoca o enriquecimento das águas com plâncton.
Segundo esclareceu, o fenómeno de upwelling ou afloramento costeiro é "muito comum na costa portuguesa" e está associado aos ventos do quadrante norte que predominam na costa ocidental e levam a um afastamento das águas da superfície. "As águas da subsuperfície, mais frias e com maior concentração de sais nutrientes, ascendem à superfície e provocam um enriquecimento das águas, criando condições ideiais de alimento e de luz para o desenvolvimento de plâncton", referiu João Pedro Correia.
"Basta haver uma conjugação destes factores com as correntes, para o plâncton ser levado a um determinado local (neste caso, perto da costa) para que as espécies como o tubarão-frade nadem atrás do seu alimento", explicou o biólogo.