\ A VOZ PORTALEGRENSE: António Martinó de Azevedo Coutinho

sexta-feira, novembro 30, 2007

António Martinó de Azevedo Coutinho

António M. Martinó, José Cândido Martinó, Uma vida Desenhada pela Banda, Edições Colibri, 13 de Setembro de 1999, 464 pg.

António M. Martinó, João de Azevedo Coutinho, Marinheiro e Soldado de Portugal, Edições Colibri, 26 de Outubro de 2002, 346 pg.

António Miguel Martinó de Azevedo Coutinho tem uma admiração fantástica pelo avô materno José Cândido Martinó, a ponto de sobre ele escrever uma biografia.
O Autor resume assim a sua obra: ‘José Cândido Martinó, Uma Vida desenhada pela Banda - A vida de José Cândido Martinó, voluntariamente inserida no contexto da música militar desde os 12 anos, em 1885, acompanha os acidentes de percurso deste sector artístico do Exército. As bandas militares atingem entre nós alguma dimensão a partir de leis produzidas em 1872 e são reduzidas a um número insignificante em 1938. O Capitão Martinó passara à reserva em 30, pelo que não já sentiu tão gravemente essa medida do Estado Novo. Entretanto enviuvara, passara por dura prova na I Grande Guerra e tivera significativa intervenção na vida civil como autarca, professor e cronista musical. Depois da passagem à reserva percorrerá o País, frequentando museus, monumentos e termas, acontecimentos culturais e grandes eventos. Dos seus périplos em tempos de guerra e em tempos de paz deixa um abundante e curioso epistolar. Vianense pelo nascimento, morreu em Portalegre no ano de 1949’.
Contudo, o livro é mais do que a biografia de José Cândido Martinó, é simultaneamente um retrato da sociedade e da vida portalegrense durante aquele período em que o biografado nela viveu. E é também a história da família Martinó de Azevedo Coutinho, porque o A. abundante e ternamente fala de sua mãe, e do pai e irmão, das tramas familiares, das relações com os outros ramos da família Azevedo Coutinho, enfim, uma miscelânea de assuntos que enriquecem a obra a ponto de ser leitura agradável.
A sociedade portalegrense da primeira metade do século passado tem a retratá-la o romance de Régio ‘Davam Grandes Passeios aos Domingos’. Dela, o que fica é uma amargura sem fim, ao lado de uma hipocrisia moral e física. O livro de António Martinó, retrata-a na sua crua realidade, quer nos aspectos sociais, económicos, como políticos, deixando uma imagem forte de uma gente fraca.

Agora o A. vai ao lado paterno, e traça nova biografia, que assim resume: ‘João de Azevedo Coutinho, Marinheiro e Soldado de Portugal é um ensaio biográfico sobre um dos últimos heróis autênticos da nossa história colonial, por terras de Moçambique, considerado “benemérito da Pátria” e condecorado com a Ordem da Torre e Espada aos 25 anos, em 1890. Guerreiro audaz e administrador rigoroso, manteve-se sempre fiel aos princípios sagrados que jurara defender - a Honra, o Rei e a Pátria. Após a revolução de 5 de Outubro de 1910, por causa da activa intervenção a que a sua coerência de vida o obrigara, foi demitido, preso e deportado pelos responsáveis da 1.ª República. Mais tarde, como chefe da Causa Monárquica e lugar-tenente do ex-rei D. Manuel e, sobretudo, do pretendente D. Duarte Nuno, acabou por se tornar um privilegiado interlocutor de Oliveira Salazar. Solenemente integrado na Marinha, em 1942, foi alvo de tardias mas justas homenagens nos últimos anos de uma vida cheia de episódios onde a coragem extrema, o respeito pelos adversários, o interesse pela cultura africana, a esclarecida capacidade e, sobretudo, o inflexível cumprimento dos deveres de fidelidade e de honra, sempre sobressaíram de forma invulgar’.
Tal como fizera na obra anterior, o A. insere acontecimentos nacionais e internacionais que vão acontecendo à margem dos actos relativos ao biografado.
E João de Azevedo Coutinho foi figura pública nacional, justificando o panegírico. [mj]
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in, Plátano, n.º 3, p.107, 108