\ A VOZ PORTALEGRENSE: Desabafos

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Desabafos

O número de famílias sobreendividadas não pára de crescer. A DECO, Associação Portuguesa para a defesa dos consumidores, é a entidade que mais tem dado a conhecer esta negra realidade, e continua a surpreender com o número de famílias e os valores em dívida.
Sendo tema-choque, certa comunicação social encontra na desgraça dessas famílias uma forma de aliciar leitores ou aumentar audiências. E quanto mais dramático e dramática se apresentar a situação, maior é a garantia de sucesso.
A desgraça alheia sempre “animou” aqueles que, como diz o povo, não a sentem na pele. Como este caso ainda não lhes bateu à porta, é fácil darem sentenças sobre os outros. Nunca conselhos, sempre acusações.
Mas, de certa forma, têm alguma razão. Quando as famílias consomem desenfreadamente bens que não são de primeira necessidade, e fazem a sua aquisição com “dinheiro de plástico”, não têm a noção da rigidez e inflexibilidade por parte das entidades financiadores, quanto a incumprimentos do pagamento de prestações.
Por sua vez, actualmente os bancos já não têm a exclusividade destes empréstimos, havendo empresas no mercado que também desempenham esta actividade altamente lucrativa.
A taxa de juro a pagar por este tipo de crédito ao consumo é alta, mesmo uma das mais altas da União Europeia, o que parece um paradoxo, dada a fragilidade da economia portuguesa, face à maioria dos seus vinte e sete membros.
Hoje em dia, quando a situação se torna insustentável, começa-se em casa por diminuir os custos da alimentação, para que publicamente a sociedade não conheça o que se passa, e só depois se corta naquilo que de imediato devia ter sido eliminado.
Mas dias piores estão para vir para as famílias portuguesas. Ao contrário das previsões, os juros para este tipo de crédito irão continuar a crescer.
in, Rádio Portalegre, Desabafos, 22/02/2008
Mário Casa Nova Martins