\ A VOZ PORTALEGRENSE: Inquirições III

quarta-feira, junho 04, 2008

Inquirições III

O Selo de Salomão
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Quando passo a porta, e depois de me ambientar à penumbra, enxergo não um corredor mas uma sala em forma hexagonal. Em cada face do hexágono está uma porta. A vontade de saber a que conduz cada uma delas cresce. Sinto-me forte para entrar. Há uma paz neste lugar, que contrasta com o frio que me enregelou quando empurrei a porta.
Mas serei capaz de dar o passo necessário para conhecer o que me espera? O que vou encontrar? Por onde devo iniciar a demanda? Porquê este desejo absurdo pelo desconhecido? Como de um momento para o outro deixo a dúvida e entro na certeza? O arbítrio da escolha conduz-me à porta que me está à esquerda. Porquê? Não sei o que me impeliu nesta direcção. Mas não vou recuar, recusar.
A distância que me separa da porta é curta, mas mesmo assim não dei por a percorrer. Uma força como que me impeliu para ela. Gostava de me lembrar quantos passos dei, mas agora parece que não andei, que não me movi em direcção a ela. Será que ela veio ter comigo? Fui eu que a busquei, ou foi ela que me procurou? Estou junto dela, que faço? Entro?
O que há pouco me parecia uma certeza é agora uma dúvida. Mas porque é que eu tinha a certeza de que queria entrar e agora já não sei se quero? No fundo tenho a consciência de que tudo o que tenho feito é percorrer um caminho à procura de algo. Mas que ainda não sei se encontrarei, porque a própria imagem que tenho do que procuro é muito ténue, vaga. Este dualismo que me corrói não me deixa decidir.
Qual o risco que corro ao transpor a porta? O que haverá para além dela? Que importa saber antes? Não vou esperar mais. Este é o momento em que tenho que tomar a decisão. De uma vez por todas. Esta espera começa torna-me fraco. E não posso fraquejar, agora que estou tão próximo de saber o que vou descobrir. Tenho que encontrar a força necessária para avançar.

Por onde vou? Sei que vou por aqui!
Mário Casa Nova Martins