\ A VOZ PORTALEGRENSE: Mário Silva Freire

quinta-feira, abril 29, 2010

Mário Silva Freire

CRÓNICAS DE EDUCAÇÃO
.
.
Ensinar e aprender
.
“O professor não ensina: ajuda o aluno a aprender”.
A frase é extraída de um livro que foi editado no início dos anos 60, mas que hoje, mais do que nunca, tem plena actualidade. Ela é repetida, em rodapé, em letras maiúsculas, ao longo da obra, cerca de trinta vezes.
Ora, “ensinar” não tem o mesmo significado que “aprender”. O primeiro termo centra-se na acção do professor. Mas o fim último dessa acção é que o aluno aprenda. Por melhores recursos pedagógicos que o professor tenha à disposição; por mais modernos que sejam os equipamentos disponíveis; por mais confortáveis que possam ser as instalações; por mais actualizadas que sejam as formações científica e pedagógica dos docentes; por mais atraentes que sejam as suas condições de trabalho e de remuneração, se não houver aprendizagem dos alunos, ao serviço de quê estarão esses recursos, equipamentos, instalações, formação e condições de trabalho?
Há que criar nos alunos, antes de mais, valores que se traduzam em objectivos que norteiem as suas actividades de aprendizagem. Ensinar sem objectivos não ajuda o aluno a aprender. Mas esses objectivos, para serem mobilizadores, terão que ir ao encontro das suas necessidades. Nem sempre essas necessidades serão devidamente percepcionadas por ele. Cabe, então, ao professor torná-las conscientes e, depois, dar-lhes as condições para serem satisfeitas.
Para que serve isto que estou a estudar? Eis uma interrogação que, frequentemente, o aluno coloca e que não pode ficar sem resposta. Ora, o professor deverá tentar encontrar sempre uma razão que o aluno entenda e que justifique a aprendizagem que vai fazer, qualquer que seja a disciplina ou matéria a tratar. E razões não faltam, desde aquelas que se prendem com a resolução de problemas da vida quotidiana, passando pelas que se ligam ao seu futuro como cidadão ou cidadã, até às outras que tentam dar resposta a interrogações sobre o funcionamento da Vida, da Natureza, do Universo, da Sociedade. É no suscitar deste “apetite” para o aprender do aluno que poderia começar o ensino do professor.
Mas os pais não ficam isentos da responsabilidade de fazer nascer nos seus filhos esse desejo de conhecer. Eles terão que se esforçar por encontrar as razões que expliquem que só o conhecimento lhes poderá abrir as portas do futuro.
Mário Freire
_______
1 Lima, Lauro de Oliveira (1962), A Escola Secundária Moderna, Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura

in, O Distrito de Portalegre, 29 de Abril de 2010, p.10