\ A VOZ PORTALEGRENSE: Crónica de Nenhures

domingo, maio 23, 2010

Crónica de Nenhures

Vinheta tirada da BD “ O Triunfo dos Porcos”,
baseada na obra homónima de George Orwell
.
Medalhas, Medalhados
e o
Zé das Medalhas
.
Um dos grandes sucessos televisivos foi indiscutivelmente a telenovela “Roque Santeiro”. Uma das suas personagens principais era o Zé das Medalhas (José Ribamar de Aragão), protagonizada pelo já falecido actor Armando Bógus.
O avarento Zé das Medalhas era o principal ‘explorador’ do falso santo, sendo proprietário de uma fábrica que entre outros produtos fabricava medalhas alusivas ao dito santo, daí a alcunha telenoveleira.
Desde então para cá, a figura de Zé das Medalhas tem sido aplicada a muito político que distribui exageradamente medalhas em ocasiões especiais.
O ex-presidente da República Jorge Sampaio é um desses ‘campeões’ de distribuição de medalhas, a par de muitos autarcas e até do candidato ao Trono de Portugal Duarte Pio João de Bragança. Se este último o faz para receber proventos económicos, e está no seu direito, os outros é para mostrarem a sua importância e status político.
Esta prosa inicial serve para introduzir o Dia da Cidade e do Concelho de Portalegre, que hoje se comemora. E ‘momento alto’ da cerimónia pública deste dia é a distribuição de Medalhas da Cidade.
As Medalhas da Cidade têm diferentes graus, e a sua distribuição obedece a critérios próprios. Até aqui, tudo bem. O ‘pior’ vem a seguir. Nos últimos anos a profusão de distribuição de Medalhas banalizou este acto que outrora era solene e que de facto distinguia por Valor e Mérito.
É evidente que em todas as épocas os critérios da escolha são sempre discutíveis. O grave é quando não há critérios, ou quando estes não se percebem, como é o caso de há meia dúzia de anos a esta parte.
Por exemplo, não se percebe quando o critério contempla compadres ou amigos. Não se compreende quando o critério é o de valorar interesses pessoais em vez de interesses colectivos. Enfim, hoje em Portalegre a Medalha da Cidade está desvalorizada, tendo em conta a essência da sua criação e atribuição.
Agora, o que não espanta é a importância que alguns Medalhados dão ao evento, enquanto se esperava que outros candidatos a Medalhados pura e simplesmente recusassem a ‘distinção’… É que são muito ‘melhores’, estão ‘acima’ pelo tal Mérito e Valor, e o acto de aceitação só os torna ‘menores’, 'igualiza-os', 'nivela-os por baixo’.
Mas a vã gloria inibe-os de agirem com lucidez, e não se apercebem do ridículo em que mergulham…
Mário Casa Nova Martins
*