\ A VOZ PORTALEGRENSE: Luís Filipe Meira

quarta-feira, março 14, 2012

Luís Filipe Meira

Empregos, Desempregos, Protocolos
&
Subsídios
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Escrevo neste jornal, por convite expresso do seu director, Manuel Isaac Correia, praticamente desde o 1º número. È verdade que essa colaboração foi-me pedida para a área da cultura e espectáculos, mas nunca me foi levantado qualquer óbice ou proibida a invasão de outras áreas, nomeadamente a política. No entanto e porque as minhas convicções ideológicas não são claras e definidas depois de tanto tempo a carregar desilusões…tenho-me abstido de tomar posições públicas sobre as tempestades que têm assolado Portugal e, concomitantemente, os portugueses, ao longo das últimas décadas. Naturalmente que, muitas vezes tive vontade de o fazer, mas por isto ou por aquilo, nunca o fiz.
A última vez que tive vontade de o fazer foi há cerca de seis meses, quando o ministro da economia, Álvaro Santos Pereira visitou com pompa e circunstância aquela fábrica que fica ali para os lados do Areeiro, na estrada para Castelo de Vide e que, aposto, nenhum portalegrense sabe o nome, nem quem é o seu proprietário, devido à velocidade supersónica com que tem mudado de nome e de proprietário, demonstrando que é o exemplo acabado que o dinheiro não tem nome e, como a água, não tem cheiro nem cor, sendo o sabor altamente selectivo. Mesmo o rasto – leia-se subsídios governamentais – têm desaparecido, não sei se utilizando os mesmos métodos, que os bandoleiros do velho oeste utilizavam para apagar as pistas, depois de assaltarem o banco da cidade.
Bem, mas dizia eu, que a última vez que tive vontade de escrever sobre um assunto fora do campo da cultura ou espectáculos foi no Verão, a propósito da visita que o ministro da economia fez à tal fábrica que, como manda a cartilha capitalista, foi desmantelada em várias unidades para assim ser mais fácil gerir os recursos humanos, leia-se despedir os empregados.
 Pois o ministro apareceu acompanhado dos deputados do PSD, Cristóvão Crespo e Manuel Matos Rosa, do Presidente da Câmara auto demitido, Mata Cáceres e de diversas forças vivas da cidade. Rezam as crónicas que os proprietários das parcelas da fábrica que davam lucro, declararam o seu empenho e vontade férrea em criar dezenas de novos postos de trabalho e alcandorar a região ao lugar que merece, o que acontecerá assim que o governo desbloqueie os tais subsídios, que são pão para a boca destes esforçados e empenhados empresários.
Essa foi a última vez que tive vontade de escrever sobre um assunto fora da minha área. Reconheço que o assunto tocava-me de perto, pois o meu cunhado era um dos cinquenta funcionários despedidos no seguimento do processo de insolvência de uma das unidades que dava prejuízo e que, no caso dele, tinha ficado a arder com 24,000,00 euros. Não o fiz, na altura, porque tive alguns problemas de saúde, apesar de ter enviado, como eleitor, o meu protesto à estrutura do PSD local, onde tenho velhos amigos, mas nem assim tive direito a resposta. Posteriormente o meu cunhado adoeceu e acabaria por falecer, não só, mas também por isto, pois a situação de desempregado sem volta, ajudou de uma forma decisiva a que entrasse num processo de degradação sem retorno.
Mas, como eu acho que as contas devem ser apresentadas e saldadas no acto, não voltaria a este assunto, se não houvesse novidades….mas houve…
Na página 4 do último número do Alto Alentejo, há uma notícia que nos dá conta que o Instituto Politécnico de Portalegre assinou um protocolo com “ a unidade industrial sita na estrada nacional 246, Quinta de S. Vicente”, não cito o nome porque para a semana pode já ter mudado. Como é de bom tom, o presidente do IPP considerou “a tal empresa” como parceiro estratégico e, só podia, proferiu palavras de circunstância. O representante das “tais empresas” assegurou que vão ser criados novos postos de trabalho e chegou ao desplante de considerar que apesar da região não poder dar resposta às necessidades da empresa a aposta passará por aqui com trabalhadores qualificados ou não. Obviamente que este Sr. Dr. não falou na idade desses trabalhadores. A finalizar este Sr. Dr. não resistiu e cito:
(…) Se tudo correr bem, se tivermos as ajudas que precisamos de ter e se de facto conseguirmos dotar “ a tal empresa” da capacidade que queremos, teremos perto de 300 funcionários (…)
Sinceramente não sei, mas tenho as minhas dúvidas que o crescimento económico de Portalegre possa ser sustentado desta forma. Criar empresas em cima dos destroços de outras ou criar emprego subsidiado para os jovens, alicerçado no desemprego dos mais velhos, não me parece um caminho com futuro. Parece-me sim, um percurso perigoso, cheio de areias movediças e que pode resvalar. Recordo-me dos meus tempos de juventude e dos livros de banda desenhada onde os índios não deixavam que ninguém invadisse os cemitérios onde os antepassados descansavam, pois estes podiam revoltar-se… Não sei pois, se será boa ideia levantar empresas em cima dos despojos ainda quentes das antecedentes…
Mas… pode ser que eu, humilde reformado, não tenha capacidade, nem visão estratégica para estas coisas. Afinal há tantos “opinion makers” locais e nenhum perdeu tempo com este assunto…
Talvez tenha sido um delírio provocado pela inactividade precoce. Bem diziam os meus amigos que a reforma antecipada pode levar à incontinência verbal…
Luís Filipe Meira