\ A VOZ PORTALEGRENSE: Desabafos, 2014/2015 - XII

quarta-feira, fevereiro 25, 2015

Desabafos, 2014/2015 - XII

Pelo buraco da fechadura
*
Num tempo, que foi sempre tempo, em que o sexo é um produto comercial de altíssimo valor e consequente lucro, o filme «As Cinquenta Sombras de Grey» não passa de mais um negócio rendoso, a par da trilogia livresca que é suporte deste e de dois futuros filme da saga.
Por nenhuma razão em especial, não lemos a trilogia, e não contamos ir ver o filme, nem as sequelas. Mas, repita-se, não há razão qualquer para que tal assim seja, apenas desinteresse.
Todavia, é impossível ficar-se indiferente à questão, uma vez que a obra foi um best-seller e o filme é recorde de bilheteira por onde tem estreado. Também não há média que se preze que não tenha dedicado tempo e páginas sobre filme e livros.
A crítica tem sido feroz para com o filme, mas, claro!, o filme não foi feito para os críticos mais sim para as multidões que o veem e do qual colhem lições, seja lá o que tal queira dizer ou ser.
Curiosamente, este delírio em torno do filme não será diferente do que foi quando da estreia do «Último Tango em Paris», filme que a intelectualidade cultivou e cultiva, «Emmanuelle», belíssimo filme erótico, e com menor fulgor, «A Grande Farra», todos da primeira metade da década de setenta do século passado.
Este, é público, traz o sadomasoquismo como cabeça de cartaz. E certamente fará o contento de quem o vê.
Em todos os tempos e épocas, o sexo é utilizado nas mais diversas formas e conteúdos. A História do Sexo acompanha a História da Humanidade. Que não se cultive a hipocrisia em relação ao sexo!
Passaram-se dias, e hoje já o filme não é falado. Porventura, a sua falta de qualidade, e esquecido o modismo que era a sua visualização, tirou-o de cena. Dificilmente o próximo da trilogia terá o mediatismo que este teve.
Mas a verdade é que se tornou matéria opinativa em praticamente todos os sectores da sociedade, o que quer dizer que não é um filme neutro.
Vive-se um tempo hedonista, no qual o prazer, a busca do prazer parece ser o único propósito da vida, num tempo em que prazer significa o mero prazer sensual.
Assim, questões do foro íntimo, o sexo e a sexualidade, estão na praça pública como objectos não tanto de prazer mas como matéria comercial, e são motivo de conversa, de estudo e menos do que realmente são, algo que pertence à esfera do privado.
in, Rádio Portalegre, Desabafos, 23/02/2015
Mário Casa Nova Martins
*